Rafaela Carvalho
Guacamole apimentada. Foi o que comprei no mercado sem querer. Cada vez que a minha filha afundava sua tortilha na guacamole, eu rapidamente tirava os pontinhos vermelhos.
E ela comia.
Até que vi tantos vermelhinhos que tive que passar o dedo e raspar tudo de uma vez. E a choradeira foi generalizada. “Mamãe ruim” - era o que eu lia no olhar desapontado.
E foi assim que notei. Percebi em algo simples, detalhes do nosso relacionamento com Deus.
Quantas vezes não percebemos o bem que nos é feito? O emprego que não deu certo. O relacionamento que acabou. A amizade que disse adeus. Os planos de viagem que foram por água abaixo. A cirurgia de emergência, as dificuldades inesperadas, os tropeços.
Quantas pimentas Ele já tirou do caminho da sua garganta? Quantos dos pontinhos escuros que pareciam inocentes gotas de chocolate desceriam ardendo? Quantos são os favores escondidos?
É preciso confiar. É preciso fechar os olhos, mesmo com eles marejados. É preciso levantar no escuro e com humildade dar o primeiro passo. E o segundo e o terceiro. E continuar caminhando.
É preciso entregar nas mãos. Trabalhar com os olhos vendados. É preciso pedir colo, sem temer cair. Como a criança que pede para a mãe, sem medo, sem qualquer dúvida. Carregando a certeza que só o amor tem. É preciso acreditar por inteiro.
É preciso lembrar que o caminho certo nem sempre é florido como desenhamos em nossa mente. E que há motivos. Sim, existe um milhão deles. Há explicação para cada curva e para cada pedra. Nós é que somos pequeninos, que temos a visão proporcionalmente pequenina. E não enxergamos. Mas até isso, até o esconderijo das razões é um presente. Dizem por aí que ignorância é uma benção. Neste caso ela realmente é.
E foi assim que eu me vi na menina chorando, com sua tortilha vazia. E foi assim que reconheci uma pequena pontinha de Deus em mim e em nós, mães.
Pois, apesar de todo esperneio, continuei retirando as pimentas e fazendo aquilo que quem ama incondicionalmente sempre faz: o meu trabalho.
Trecho retirado do best-seller 60 dias de neblina e do perfil da autora Rafaela Carvalho.
Tammy Ganem
Quando falamos em parto, é comum pensarmos na equipe médica. Mas existe uma presença silenciosa e constante, que caminha ao lado da mulher antes, durante e depois do nascimento: a doula.
A doula oferece suporte emocional, físico e informacional durante a gestação, o parto e o pós-parto. Seu papel não é o de substituir a equipe de saúde, mas o de acompanhar e cuidar da mulher de forma contínua, ajudando a compreender o que acontece com seu corpo, suas emoções e seu processo.
Durante a gestação, esse apoio se traduz em informação clara e acessível, sem julgamentos. Falamos sobre as mudanças do corpo, as fases do trabalho de parto, o que é considerado normal, os direitos da mulher e as possibilidades de escolha. Estar informada muda completamente a experiência e traz segurança, autonomia e tranquilidade.
No parto, a doula está presente desde o início, oferecendo conforto físico e emocional. É quem observa, acolhe, auxilia com posições, respiração e métodos de alívio da dor. É também uma ponte entre a mulher, o acompanhante e a equipe, ajudando a manter o ambiente respeitoso e alinhado às preferências da gestante.
Mas o trabalho da doula não se limita ao parto vaginal. Nas cesarianas também há espaço para o cuidado e para o acolhimento. A mulher que passa por uma cesariana também carrega dúvidas, medos e expectativas. Ter uma doula ao lado nesse momento, oferecendo suporte emocional, ajudando a compreender o que está acontecendo, pode transformar completamente a vivência da cirurgia.
Ser doula é estar junto. É validar, ouvir, acolher e informar. É lembrar que cada nascimento é único, e que toda mulher merece viver essa experiência com respeito, segurança e afeto.
Tammy Ganem - Doula e Educadora Perinatal
O que ninguém te conta sobre o pós -maternidade
Fernanda Savaris
Você se tornou mãe, e junto com esse amor imenso, veio também uma sensação difícil de explicar. A de que, de alguma forma, você se perdeu de si. Não é sobre não amar o seu filho.
É sobre sentir saudade de quem você era antes da maternidade, das pausas, da leveza, da mulher que tinha tempo pra se ouvir. E talvez essa falta não seja apenas sobre o agora. Talvez ela seja antiga.
Antes de ser mãe, você foi filha. E, quando criança, talvez tenha adoecido, chorado, sentido medo, e nem sempre foi acolhida.
Talvez tenha aprendido cedo que precisava dar conta sozinha, que não podia pedir muito, que precisava ser forte.
E hoje, diante do seu filho, o cansaço vem não só da rotina… mas de tudo aquilo que ainda pulsa dentro de você. Porque cuidar de um filho também desperta o que ainda dói na criança que você foi.
Por isso, às vezes, você se doa até se esvaziar. Ou se irrita porque ele te pede o que você mesma nunca recebeu. Ou se frustra com o companheiro, porque a falta de presença dele reabre a ausência que você sentiu do seu pai. Ou julga sua mãe, mesmo tentando não repetir a história dela.
E no meio desse turbilhão, o que sobra é o cansaço. Um cansaço que não passa com dormir mais. Porque o que falta não é só descanso. É cuidado. É acolhimento. É alguém que olhe pra você com a mesma ternura com que você tenta olhar pro seu filho.
O pós-maternidade não é só sobre ajustar rotinas. É sobre se reencontrar. É sobre permitir que a mulher que existe dentro de ti volte a sentir que é, além da mãe. Perceber suas próprias necessidades. E, com carinho, aprender a cuidar de si também. Para depois cuidar melhor da sua criança e de toda a sua família. E além disto, quando você para de julgar sua história e começa a cuidar de você, a sua casa entra em harmonia e você vive com mais leveza. Pois a transformação começa em você mas se estende aos seus filhos e todos que convivem com você!
Voltar pra si é o começo da transformação — para você, para o seu filho e para todos que convivem com você.
E só você pode fazer isto! Vamos juntas nesta jornada de auto-conhecimento e cura?
Fernanda Savaris
Terapeuta Integrativa Sistêmica, Mentora de Mães, Microfisioterapia